domingo, 16 de dezembro de 2012

Os méritos de Tite no título mundial do Corinthians e os benefícios da taça para o clube e para o treinador

Tite, protagonista de um time de vários protagonistas
O gol do centroavante peruano Paolo Guerrero aos 24 minutos do segundo tempo garantiu a vitória por 1 a 0 sobre o Chelsea e o cobiçado título mundial ao Corinthians. O merecido triunfo alvinegro pôs fim à sequência de cinco conquistas europeias, já que os times do Velho Continente levaram a melhor na competição de 2007 até o ano passado. Além disso, com o resultado, os corintianos completaram uma espécie de "trinca", levantando em um curto período de dois anos as três taças mais desejadas por seus rivais: o Campeonato Brasileiro, em 2011, e a Libertadores da América e o Mundial de Clubes, em 2012.

Apontar no elenco atual apenas dois ou três responsáveis por esse sucesso recente é uma missão quase impossível. Cássio, que conquistou a titularidade no decorrer da temporada, fechou o gol na Libertadores - sobretudo no duelo com o Vasco, pelas quartas-de-final, no Pacaembu - e na final com o Chelsea. A dupla de volantes funcionou em plena sintonia: Ralf deu mais segurança à defesa, intransponível no Japão, enquanto Paulinho foi sempre um importante elemento surpresa no ataque. O experiente Danilo, que trilhou caminho semelhante no São Paulo em 2005, apareceu nos momentos cruciais, como na semifinal contra o Santos e na decisão do Mundial. Na frente, coube a Emerson e Guerrero a função de marcar os gols decisivos nos dois títulos da equipe esse ano.

Fazer essas peças trabalharem em conjunto passa pelas mãos do treinador. E Tite foi muito competente nessa tarefa de formar um grupo onde todos participam, e não apenas um time dependente de um ou outro valor individual. O técnico conseguiu extrair o máximo dos jogadores que tinha à disposição e, o mais importante, aplicou à equipe conceitos fundamentais do futebol moderno, especialmente a marcação por pressão e a dedicação tática sem a bola - tanto que colocou o atacante Jorge Henrique para marcar o lado esquerdo do Chelsea na final. Na decisão de 2011, a ausência dessas características e a dependência de Neymar foram fundamentais na goleada por 4 a 0 do Barcelona no Santos, além, claro, da qualidade do time espanhol.

A competitividade da equipe era tão grande que até diminuiu aquela ideia do abismo técnico entre europeus e sul-americanos e que ficou mais evidente no confronto dos santistas com os catalães. Porém, as diferenças ainda existiam e só valorizam o título. Nesta semana, a Pluri Consultoria publicou um estudo que levava em consideração o valor de mercado dos dois finalistas. E os números impressionam, embora não sejam surpreendentes. A equipe do Chelsea que entrou em campo está avaliada em aproximadamente R$ 688 milhões, números mais de cinco vezes maiores que os do Corinthians, cujos titulares somam R$ 125,5 milhões. Sem falar que, juntos, o espanhol Juan Mata e o belga Eden Hazard têm valor de mercado equivalente ao de todo o grupo corintiano.

Vale lembrar que esse trabalho de Tite à frente do Corinthians por pouco não foi interrompido em seu início, quando o clube viveu um dos capítulos mais trágicos de sua história: a eliminação para o Tolima na fase preliminar da Libertadores de 2011. A diretoria da época pode até ser criticada por outras questões, mas merece elogios pela manutenção do treinador. E curioso é ver que o próprio Chelsea sempre caminhou em direção contrária com Roman Abramovich. Desde que o russo assumiu o comando dos Blues, em 2003, nove treinadores já dirigiram a equipe, e apenas três - José Mourinho, Guus Hiddink e Roberto Di Matteo - foram campeões. Diante disso, difícil acreditar que Abramovich teria a mesma paciência com Tite após a derrota  na Colômbia.

Campeão brasileiro, sul-americano e mundial, o Corinthians, que já era um gigante, subiu de patamar e hoje vê a maioria dos rivais do andar de cima. A exemplo de Tite, que merecidamente foi cogitado por várias pessoas - inclusive por mim - para comandar a seleção. Discussões como essa, aliás, são bem mais relevantes do que algumas que apareceram durante a semana. O clube alvinegro pode ser chamado de "bicampeão mundial"? Isso pouco importa. Essencial é saber que a edição de 2000 também tem seu valor, como aconteceu com a Copa Rio na década de 1950. Houve de fato a "invasão corintiana" ao Japão? Importante é que quem esteve lá protagonizou um belo espetáculo e, assim como são-paulinos e colorados, acompanhou de perto um fato inesquecível.

No vídeo abaixo, confira o histórico gol do peruano Paolo Guerrero na voz sempre contagiante do locutor esportivo José Silvério.

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